segunda-feira, 20 de maio de 2019

AVC é uma emergência médica e a rapidez para o atendimento - em até quatro horas - pode ser decisivo para reverter o quadro.

O acidente vascular cerebral, mais conhecido como AVC, é a segunda maior causa de mortes no mundo. O neurorradiologista José Guilherme Caldas, do Hospital das Clínicas de São Paulo, explica que o problema pode ter duas causas: a falta de sangue no cérebro, que provoca o AVC isquêmico, e a ruptura de um dos vasos sanguíneos cerebrais, o AVC hemorrágico. De acordo com o médico, uma em cada seis pessoas poderá ter AVC durante a vida e, a taxa de AVC hemorrágico é mais comum entre as mulheres (60%) contra 40% dos homens. Já o AVC isquêmico não apresenta diferença entre os sexos


O AVC isquêmico é causado pela obstrução das veias ou artérias, impedindo que o sangue chegue ao cérebro. O médico explica que o problema pode ser causado por colesterol alto, cigarro ou defeitos químicos, que fazem com que o paciente apresente mais coagulações


Já o AVC hemorrágico é provocado pela ruptura de uma das veias do cérebro, podendo causar danos cerebrais. A consequência é a perda de alguns movimentos e funções, que pode ser de maneira temporária ou permanente. Entre os fatores de risco estão hipertensão descontrolada, cigarro e obesidade


Os sinais de um AVC isquêmico e AVC hemorrágico são parecidos. O neurorradiologista aponta que um dos principais meios de identificar se uma pessoa está tendo um AVC é o fato de não conseguir falar, de fazer contas básicas ou apresentar a boca torta. Segundo o cardiologista, para verificar esse sintoma, é necessário pedir ao paciente que ele tente repetir algumas palavras ou tentar fazer um biquinho com a boca, como se fosse assobiar


A perda da sensibilidade é outro importante sinal, conforme afirma o cardiologista. É caracterizada por formigamento, especialmente nas mãos e nos braços e, ao pedir que alguém o toque, ou tocar a si mesmo, não sente nada


A perda da força é outro sintoma. O médico explica que quando ocorre o AVC, o paciente não tem forças para levantar um copo com água. Não conseguir beber a água ou levantar a perna ou até mesmo se mexer também são sintomas


Outro sintoma que ocorre principalmente no AVC hemorrágico é uma dor de cabeça imensurável, de acordo com Caldas. O médico afirma que, às vezes, a dor é tão forte que pode levar à perda da consciência. No caso de sintomas como a perda parcial da visão e visão dupla, o médico afirma que esses casos acontecem em AVC isquêmico, pois o coágulo passa pela artéria carótida e, quando passa atrás do olho, afeta a visão


O médico afirma que o AVC costuma ocorrer em pessoas a partir dos 40 anos, quando é recomendada a ultrassonografia arterial para o rastreamento de problemas. Caso seja encontrada alguma evidência de risco, é aconselhado que o paciente faça tratamento medicamentoso, seja para afinar o sangue, como para controlar problemas como colesterol e hipertensão


De maneira a prevenir o AVC, o médico recomenda um estilo de vida saudável, sem álcool e cigarro, evitar gorduras, ter alimentação equilibrada e fazer exercícios. 

"Não é necessário que a pessoa pegue pesado ou faça exercícios de academia. Uma caminhada todos os dias, ou até a cada dois dias, ajuda a ativar a circulação e a prevenir um AVC", afirma José Guilherme.


O médico lembra que o AVC é uma emergência médica e a rapidez para o atendimento - em até quatro horas - pode ser decisivo para reverter o quadro. "É importante levar ao pronto-socorro o mais rápido possível", afirma. Assim que o paciente chega ao hospital, ele passa pela triagem, onde, assim que levantada a suspeita, enfermeiros acionam um botão de alerta. Caso o hospital não tenha esse recurso, o paciente é enviado para um centro de atendimento que possua atendimento para esse problema


Fonte: tecnica-da-usp-ribeirao-que-reverte-avc-pode-ser-incorporada-pelo-sus-(09/05/2019).

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Técnica da USP Ribeirão que reverte AVC pode ser incorporada pelo SUS

Trombectomia mecânica, em que microcateter 'pesca' coágulo no AVC isquêmico, já está disponível na rede privada; taxa de sucesso chega a 90%


A trombectomia mecânica, técnica capaz de reverter o AVC isquêmico, já disponível na rede privada, poderá ser incorporada na rede pública.
Segundo o neurologista Octavio Pontes Neto, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, que desenvolveu a técnica no Brasil, um estudo encomendado pelo Ministério da Saúde, que estava em andamento há cerca de quatro anos para comprovar a eficácia e segurança do tratamento, foi concluído.

"A eficácia foi comprovada com um terço dos pacientes planejados, sugerindo que o benefício é bastante substancial. O alvo era incluir 600 pacientes, mas, na primeira análise intermediária, com 200, em que pesquisadores externos ao estudo analisam os resultados premilimares, foi constatado que os resultados eram positivos. A técnica é superior ao tratamento clínico", afirma.

Chamado "Resilient", o estudo clínico foi coordenado pela neurologista Sheila Martins, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e presidente da Rede Brasileira de AVC, com participação de Pontes Neto, como integrante do Comitê Diretor. Os resultados devem ser oficialmente apresentados ainda este mês no Congresso Europeu de AVC, em Milão, na Itália. 
"É um gol de placa no Brasil. O AVC é a segunda causa de morte no país. Há mais de 400 mil casos por ano de AVC e poucos pacientes têm acesso ao tratamento. Os resultados são realmente impressionantes. Há paciente que entra em coma no hospital ou sem mexer completamente um lado do corpo e, muitas vezes, com o tratamento, sai andando", afirma.

A trombectomia mecânica é um procedimento similar ao cateterismo, no qual um microcateter alcança o cérebro, por meio de uma artéria da perna, e "pesca" o coágulo que está entupindo a artéria no cérebro. O objetivo é restaurar o fluxo sanguíneo para evitar a morte daquela região cerebral.
A técnica é indicada para AVC isquêmico, o mais comum, que representa 80% dos casos, com oclusão de grandes artérias, que são os casos mais graves. O microcateter só consegue penetrar nas grandes artérias do cérebro.

No AVC isquêmico há o entupimento da artéria que leva sangue para o cérebro; no AVC hemorrágico, que engloba os outros 20% dos casos, a artéria se rompe e extravaga sangue para o cérebro.

Para o AVC isquêmico, existem dois protocolos que podem reverter o quadro: a trombectomia mecânica, ainda não oferecida pelo SUS, e o tratamento trombolítico, já oferecido pela rede pública. Ambos só podem ser aplicados nas primeiras 24 horas do AVC. 

Nesse tratamento, o coágulo é dissolvido por um medicamento ministrado pela veia. A diferença entre o tratamento trombolítico e a trombectomia mecânica, que deve ser ainda incorporado ao SUS, é que o primeiro é indicado em 40% dos casos de AVC isquêmico, já o segundo, em 20%, ou seja, apenas nos casos mais graves. 

"A taxa de sucesso do tratamento trombolítico é de 40%, já da trombectomia mecânica chega a 90%. As técnicas são alternativas e podem também ser complementares", explica. 
Apenas 2% dos pacientes com AVC recebem o tratamento trombolítico. Segundo ele, essa porcentagem é baixa devido ao atraso no atendimento. "Diferentemente do infarto, a população não perecebe rapidamente que se trata de uma urgência. Os sintomas são fraqueza de um lado do corpo, dificuldade para falar e para enxergar. Mas e passoa não percebe que aquilo é uma urgência, acha que vai passar espontanemante e, às vezes, vai dormir e só procura um hospital no dia seguinte. E daí perdeu-se a oportunidade de tratar", afirma.

Ele ressalta que, quando os sintomas são reconhecidos, deve-se ligar para o Samu (192) ou levar paciente para um hospital que tenha protocolo de AVC - nem todos estão aptos a atender a esse tipo de urgência. 
"A técnica está disponível na rede privada desde 2015. Nos últimos anos, vem sendo aprimorada, com novos dipositivos para pescar o coágulo de forma muito mais eficaz. Os resultados impressionantes estão aparecendo agora", diz.

Sobre técnica que reverta o AVC já estabelecido, ele afirma que há vários estudos em andamento para restaurar áreas que já foram perdidas no cérebro. Entre elas estão pesquisas com células-tronco, estimulação magnética transcraniana e  medicamentos que ajudam a restauração das funções cerebrais. "Mas todos estão em fase experimental", conclui.

Fonte: Pesquisa USP Ribeirão Pires