quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Chuvas, inundações e doenças




Chove em todo o Brasil.

Entra ano, sai ano e as fortes chuvas que costumam cair no verão sempre provocam alagamentos em várias partes do país. Em função desses desastres, muitos moradores das regiões prejudicadas pelas cheias perdem seus bens e ficam desabrigados, como ocorreu na tragédia de Santa Catarina, em novembro de 2008, o desastre em Rio de Janeiro em 2010 deixando milhares de mortos e desabrigados, o caos das enchentes em São Paulo, e quase todos os dias esta frase tem sido ouvida nos principais noticiários da TV, nos últimos dias: "Com a chuva vem as inundações e os casos de Lepstopirose".

Lepstopirose é uma zoonose de ampla distribuição geográfica, acometendo os animais e o homem, e causada por uma bactéria do gênero Leptospira; é doença sistêmica aguda caracterizada por intensa vasculite. Atinge áreas urbanas e rurais de todas as regiões do Estado de São Paulo, predominando no Município de São Paulo, Municípios das regiões da Grande São Paulo, Baixada Santista, Campinas, Sorocaba e Piracicaba.

Pode ocorrer de forma endêmica e, principalmente, de forma epidêmica por exposição da população a uma fonte comum de infecção, por exemplo, as inundações na época das chuvas.

No nosso meio a Leptospirose, reflete principalmente a baixa qualidade de vida da população e apresenta nítida variação sazonal ocorrendo maior número de casos nos meses do verão e acometendo populações residentes em áreas de risco, onde há falta de saneamento básico, precárias condições de habitaçãopresença de lixo e córregos assoreados, propiciando o aumento da população murina (ratos) e o contato das pessoas com água ou lama de enchente contaminadas pela urina do roedor.

Além disso, a Leptospirose está associada a algumas atividades profissionais como trabalhadores de serviços de água e esgoto, lixeiros, tratadores de animais, plantadores de arroz, cortadores de cana-de-açúcar, magarefes entre outras.

Deve-se ressaltar que pela associação com atividades profissionais de risco e pelo fato de existir, em nosso Município, um número considerável de pessoas residindo em precárias condições, a Leptospirose ocorre durante o ano todo, inclusive casos fatais, até porque fora dos meses de muitas chuvas e enchentes não há divulgação da doença e a procura aos serviços de saúde pela população é menos rápida e o diagnóstico e tratamento precoces, por parte dos profissionais de saúde, também podem ser prejudicados.

A transmissão para o homem pode ocorrer:

* diretamente pelo contato com urina de animais infectados;
* indiretamente, o que é mais comum, por meio do contato com água e solos lamacentos contaminados com urina de animais infectados.

As leptospiras penetram pela mucosa íntegra (orofaríngea, nasal, ocular e genital) e pele escoriada ou macerada pela permanência prolongada em meio líquido.
A transmissão pelo contato com sangue, tecidos e órgãos de animais contaminados, por ingestão de água ou alimentos contaminados, acidental em laboratório e por via transplacentária têm sido relatadas porém com muito pouca freqüência.

As manifestações clínicas são muito variáveis, com diferentes graus de severidade, ocasionando desde infecção assintomática a formas clínicas leve, moderada e grave que pode levar à morte. Essas formas clínicas podem apresentar ou não icterícia.
As formas anictéricas representam, na literatura médica, 90 a 95% de todos os casos mas, devido às dificuldades inerentes à suspeita e à confirmação da doença, não chegam a atingir 40% nos nossos registros de casos confirmados. Essas formas clínicas podem ser leve, moderada ou grave. O início da doença é geralmente súbito, com febre, cefaléia, mialgias, anorexia, náuseas e vômitos. A forma leve cursa somente com essa sintomatologia, dura de 1 a vários dias e, freqüentemente, é confundida com a gripe, uma "virose" e a dengue. Quadro clínico com maior gravidade pode ocorrer apresentando-se classicamente como uma doença febril bifásica.

Tratamento

A antibioticoterapia está indicada para todos os casos com suspeita da doença.
Os casos leves poderão ser tratados ambulatorialmente com orientação de repouso, hidratação e retornos diários para acompanhamento e avaliação do surgimento de sintomatologia mais grave.

* Amoxicilina 500 mg VO de 8 em 8 hs ou Doxiciclina 100 mg VO de 12 em 12 hs ou Ampicilina 500 mg VO de 6 em 6 hs durante 5 a 7 dias.

* Casos moderados e graves: tratamentos a nível hospitalar.

Penicilina G Cristalina 6 a 12 milhões de unidades diárias em 4 a 6 tomadas ( para crianças, 50.000 a 100.000 unidades/kg/dia);

alternativas à Penicilina: Ampicilina 4g por dia (para crianças, 50 a 100 mg/kg/dia),Tetraciclina 2g por dia ou Doxiciclina 100mg de 12 em 12 hs. Período de Tratamento: 7 a10 dias.
Atenção: Devido aos efeitos adversos da Doxiciclina e da Tetraciclina, elas não deverão ser utilizadas em crianças menores de 9 anos, mulheres grávidas e portadores de nefropatias e hepatopatias.

Como terapêutica de suporte, poderá ser necessário realizar reposição hidroeletrolítica, assistência cárdio-respiratória, transfusões de sangue e derivados, nutrição enteral ou parenteral, proteção gástrica, etc.
O acompanhamento do volume urinário e da função renal é fundamental para se indicar a instalação de diálise precoce, o que reduz o danorenal e a letalidade da doença.

Para maiores detalhes sobre tratamento e acompanhamento dos casos suspeitos, principalmente os que necessitarem internação hospitalar, consultar o Informe Técnico de Leptospirose do CVE-SES-SP no site www.cve.saude.sp.gov.br

Referências Bibliográficas:

* Manual de Vigilância Epidemiológica – Leptospirose, Centro de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Estadual de Saúde, SP, 1994.
* Guia de Vigilância Epidemiológica, Volume II, Fundação Nacional de Saúde, Ministério da Saúde, 2002.

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