20,5 milhões de idosos demandam atendimento de qualidade no país
Segundo o último censo do IBGE, 10,8% da população brasileira têm 60 anos ou mais. Na contramão, há poucos médicos especializados em Geriatria. O Brasil tem um geriatra para cada 20 mil idosos. São Paulo concentra, disparado, o maior número de especialistas (258 em todo o estado, de acordo com a Pesquisa Demografia Médica no Brasil/2011, do Conselho Federal de Medicina), ao passo que Amapá, Rondônia e Roraima não contam com nenhum.
A Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD), também do IBGE, mostra que 75,5% dos idosos possuem alguma doença crônica, a exemplo de hipertensão e diabetes.
Neste percentual estão incluídas as doenças crônico-degenerativas como Alzheimer, demência e Parkinson, o que exige atuação holística por parte do médico. Para a presidenteda Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Nezilour Lobato Rodrigues, uma das grandes difi culdades no atendimento ao idoso é a falta de integração entre os profissionais de saúde, uma vez que os pacientes não costumam ser encaminhados para o acompanhamento específi co do geriatra.
"Além disso, as consultas geriátricas geralmente são longas, porque o idoso tende a ter um número maior de problemas de saúde. Para esse atendimento individualizado, é necessário aumentar os custos da consulta, o que muitas vezes não é vantajoso nem para o SUS nem para os planos privados”, diz Nezilour.
Na opinião do presidente do Departamento de Geriatria e Gerontologia da Associação Paulista de Medicina (APM), Omar Jaluul, um dos principais desafi os é divulgar a ampla possibilidade de atuação do geriatra sem vincular a especialidade às terapias antienvelhecimento, que, aliás, são condenadas pelo CFM. "Felizmente, estamos conseguindo combater a errônea ideia de que o geriatra é o médico que prescreve vitaminas. Mas antes é preciso vencer o preconceito de que se deve procurar um geriatra somente no último momento da vida”, afirma.
"O que se procura é o chamado envelhecimento bem sucedido, que envolve baixa probabilidade de doença e incapacidade funcional, alta capacidade física e cognitiva e engajamento na vida ativa”, defende Renato Fabbri, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – Regional São Paulo (SBGG/SP).
Residência
Em todo o Brasil, existem apenas 21 programas credenciados pelo Ministério da Educação, que ofertam 60 vagas, e nem todas são preenchidas. Na região Norte, onde há maior carência de profissionais, a procura ainda é menor.
Na única residência de Geriatria do Pará, por exemplo, apenas quatro vagas foram preenchidas nos últimos quatro anos.
Aproximadamente 70% dos programas de residência médica em Geriatria no Brasil encontram-se no Sudeste. São Paulo fica com quase 50% do número total de vagas e, ainda assim, alguns desses programas não têm todas as cadeiras ocupadas.
"A transformação demográfica está acontecendo de forma rápida e explosiva, sendo necessário o treinamento de profissionais para o atendimento adequado. Em 1989, havia apenas dois programas de residência com total de quatro vagas. Com a ampliação e melhora na formação de geriatras, ainda que em número insuficiente, há melhor sistematização no atendimento ao idoso, com a criação de ‘massa crítica’ produtora de literatura com experiência brasileira”, aponta Fabbri.
Mercado
Conforme explica Jaluul, o mercado apresenta possibilidades interessantes. "Há imensa procura por geriatras, tanto na saúde suplementar – por vezes, com boas condições de trabalho, maior tempo de atendimento e melhor remuneração – como em unidades especiais do SUS que fazem gerenciamento de doenças crônicas.”
Hoje são 1.047 geriatras e 248 gerontólogos titulados pela SBGG. "Considerando que deve haver 63 milhões de idosos no país em 2050, precisamos muito de pessoas qualificadas e especializadas para exercer essas atividades”, conclui Nezilour.
Dados
- em 1960, apenas 4,7% da população (3,3 milhões de brasileiros) tinham 60 anos ou mais
- em 2010, o percentual saltou para 10,8% da população (20,5 milhões de brasileiros)
- estima-se que até 2050 o Brasil tenha 63 milhões de idosos
Geriatria x Gerontologia
Geriatria é uma especialidade médica reconhecida em todo o Brasil, cujo objetivo é a prevenção e tratamento das patologias ligadas ao envelhecimento humano. Já a Gerontologia é uma área do conhecimento científico de caráter interdisciplinar, voltada para o estudo do envelhecimento em sua perspectiva mais ampla, em que são considerados não apenas os aspectos clínicos e biológicos, mas também as condições e determinações psicológicas, sociais, econômicas e históricas. É possível ser gerontólogo sem cursar medicina. Contudo, a residência feita pelos médicos contempla as duas áreas, Geriatria e Gerontologia.
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